sábado, 26 de fevereiro de 2011

Crianças de Ganna


Vejo nestes olhares tristes, mas soberbos
cujo amarelo das conjuntivas delata
que em seus frágeis corpos enfermos
uma doença cruel lhes maltrata.

Por falta de recurso financeiro e algum cuidado
Uma maioria significativa morre muito cedo
As faces das mães denunciam o estampado medo
de um final triste, cheio de sofrimento, antecipado.
As mortes prematuras e os graves sofrimentos
Não tiram dos anjos a beleza destes olhares
Menos ainda a tristeza diante deste momento.

Ao lembramos que aqui no Brasil faz tempo
Desgraçadamente, negros e mulatos aos milhares
Padecem e morrem do mesmo tormento.



Desterro, 27/02/2011









































sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

“ OS VOTOS ”

“ Pois, desejo primeiro que você ame e que amando, seja também amado,
E que se não o for, seja breve em esquecer e esquecendo, não guarde mágoa.

Desejo depois que não seja só, mas que se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos e que, mesmo maus e inconseqüentes, sejam corajosos e fiéis,
E que em pelo menos um deles você possa confiar, que confiando, não duvide de sua confiança.
E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos, nem muitos nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas
E que entre eles haja pelo menos um que seja justo, para que você não se sinta demasiadamente seguro.

Desejo, depois, que você seja útil, não insubstituivelmente útil,
Mas razoavelmente útil. E que nos maus momentos, quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé. Desejo ainda que você seja tolerante,
não com os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com aqueles que erram muito e irremediavelmente,
E que essa tolerância não se transforme em aplauso nem em permissividade,
Para que assim fazendo um bom uso dela, você dê também um exemplo para os outros.

Desejo que você, sendo jovem, não amadureça depressa demais e que, sendo maduro,
não insista em rejuvenescer e que, sendo velho, não se dedique a desesperar.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram dentro de nós.

Desejo, por sinal, que você seja triste, mas não o ano todo,
nem em um mês e muito menos numa semana, mas apenas por um dia.
Mas que nesse dia de tristeza, você descubra que o riso diário é bom, o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra com o máximo de urgência, acima e a despeito de tudo,
Talvez agora mesmo, mas se for impossível, amanhã de manhã, que existem oprimidos, injustiçados e infelizes,
e que estão à sua volta, porque seu pai aceitou conviver com eles.
E que eles continuarão à volta de seus filhos, se você achar a convivência inevitável.

Desejo ainda que você afague um gato, que alimente um cão e ouça pelo menos um joão-de-barro erguer triunfante o seu canto matinal.
Porque assim você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente, por mais ridícula que seja, e acompanhe o seu crescimento dia-a-dia,
para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, porque é preciso ser prático.
E que, pelo menos uma vez por ano, você ponha uma porção dele na sua frente e diga:
Isso é meu. Só para que fique bem claro quem é dono de quem.

Desejo ainda que você seja frugal, não inteiramente frugal,
não obcecadamente frugal, mas apenas usualmente frugal.
Mas que esse frugalismo não impeça você de abusar quando o abuso se impõe.

Desejo também que nenhum dos seus afetos morra, por ele e por você.
Mas que, se morrer, você possa chorar sem se culpar e sofrer sem se lamentar.

Desejo, por fim, que sendo mulher você tenha um bom homem,
E que sendo homem, tenha uma boa mulher.
E que se amem hoje, amanhã, depois, no dia seguinte, mais uma vez,
E novamente, de agora até o próximo ano acabar,
E que quando estiverem exaustos e sorridentes, ainda tenham amor para recomeçar.

E se isso só acontecer, não tenho mais nada para desejar. ”

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011



..........se a vida é única e a morte é o indicativo de sua finitude, a consciência de temporalidade do indivíduo o torna mais responsável pela suas opções cotidianas e consciente de que a intensidade de sua vida depende daquilo que a humanidade, em seu conjunto, vai definindo. Vivemos aquilo que ajudamos a construir, partindo da tradição daquilo que os outros nos deixaram......

domingo, 10 de outubro de 2010


Sobre o Amor


Quando o amor acenar, siga-o ainda que por caminhos
ásperos e íngremes.

E quando suas asas o envolverem, renda-se a ele.
Ainda que a lâmina escondida sob suas asas possa feri-lo.

E quando ele falar a você, acredite no que ele diz,
Ainda que sua voz possa destroçar seus sonhos,
Assim como o vento norte devasta o jardim.

Pois, se o amor coroa, ele também o crucifica.
Se o ajuda a crescer, também o diminui.

Se o faz subir às alturas e acaricia seus ramos
mais tenros que tremem ao sol, também o
faz descer às raízes e abala sua ligação com a terra.

Como os feixes de trigo, ele o mantém íntegro.
Debulha-o até deixá-lo nu.

Transforma-o, livrando-o de sua palha.
Tritura-o, até torná-lo branco.
Amassa-o, até deixá-lo macio e, então, submeta-o ao fogo
para que se transforme em pão, no banquete sagrado de Deus.

Todas essas coisas pode o amor fazer para que você
conheça os segredos de seu coração e, com esse
conhecimento, se torne um fragmento do coração da VIDA.

Khalil Gibran

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Impermanência

segunda-feira, 29 de junho de 2009

SUBSÍDIOS PARA A NÃO VIOLÊNCIA ATIVA E TRANSFORMADORA

DECÁLOGO PARA A ESPIRITUALIDADE DA NÃO VIOLÊNCIA

1. Aceitar-me a mim mesmo em profundidade, “quem sou”, com todos meus dotes e riquezas, com todas as minhas limitações, os meus erros, as minhas falhas e as minhas fraquezas; e reconhecer que sou aceito por Deus. Viver na verdade de mim mesmo, sem orgulho em excesso, com menos desilusões e com menos falsas expectativas.

2. Reconhecer que aquilo de que me ressinto e até detesto noutra pessoa, vem da dificuldade de admitir que esta mesma realidade também vive em mim. Reconhecer e começar a renunciar à minha própria violência, que se torna evidente quando começo a observar as minhas palavras. Os meus gestos e as minhas reações.

3. Aprender a reconhecer e a respeitar “o sagrado” (“aquilo que é de Deus”, como dizemos Quakers) em cada pessoa, nós incluídos, e em cada parcela da criação. Os atos da pessoa não violenta ajudam a libertar este “divino” no nosso opositor, tirando-o da obscuridade ou do cativeiro.
4. Renunciar ao dualismo, à mentalidade “nós-eles” (maniqueísmo). Isto divide-nos em “gente boa - gente má” e leva-nos a demonizar o adversário. Também é a raiz do autoritarismo e do comportamento de exclusão. Provoca o racismo e possibilita o conflito e até a guerra.

5. Encarar o medo e tratá-lo com amor, não apenas coragem.

6. Entender e aceitar o fato de que a “Nova Criação”, a edificação da “Comunidade Bem Amada” só pode avançar com outros, porque nunca é uma “atuação de solista”. Isto requer paciência e capacidade para perdoar.

7. Vermo-nos como parte integrante de toda criação, em favor da qual promovemos um relacionamento de amor e não de dominação, recordando que a destruição do nosso planeta é um problema profundamente espiritual e não simplesmente um problema científico ou teológico. Somos um só.

8. Estarmos prontos a sofrer, até mesmo com alegria, ao sabermos que estamos ajudando a libertar o divino que existe nos outros. Isto inclui a aceitação do nosso lugar e momento na história, com os seus traumas e as suas ambigüidades.

9. Ter capacidade para a celebração, para alegria, quando a presença de Deus já tiver sido aceita e, quando não tiver, ajudar a descobrir e reconhecer esse fato.

10. Abrandar a mancha, ser paciente, plantando sementes de amor e perdão nos nossos próprios corações e à nossa volta. Pouco a pouco, cresceremos no amor, na compaixão e na capacidade de perdoar.

(Rosemary Lynch, OFS, Louis Vitale, Alain Richard, Ken Katigan, Pace e Bene Center;Las Vegas – Nevada – EUA)







PRINCÍPIOS DA NÃO VIOLÊNCIA:
Martin Luther King Jr.

Este sumário dos princípios da Não Violência de Martin Luther King Jr, foi adaptado pelo grupo:“Fellowship of Reconciliation” a partir do livro: “Stride Toward Freedon”.

1. A Não Violência é um caminho de vida para pessoas corajosas:
- É a não violenta ação e resistência contra o mal;
- É a disposição espiritual, mental e emocional intensa.

2. A Não Violência deseja a vitória da compreensão e do bom relacionamento:
- O resultado da Não Violência é a redução e a reconciliação;
- O propósito da Não Violência é a criação da “Comunidade Amada”.

3. A Não Violência supõe o fim das injustiças e não das pessoas:
- A Não Violência entende que os malfeitores são também vítimas;
- A resistência não violenta supõe o fim da injustiça e não da pessoa.

4. A Não Violência sustenta que o sofrimento voluntário pode educar e transformar:
- A Não Violência aceita o sofrimento sem retaliação;
- A Não Violência aceita que a violência é necessária, porém nunca a inflama;
- A Não Violência assume as conseqüências de seus atos;
- O sofrimento voluntário é redentor e tremendamente educativo e transformador;
- O sofrimento voluntário tem poder para converter o inimigo quando as razões fracassam.

5. A Não Violência opta pelo amor ao invés do ódio:
- A Não Violência resiste à violência de espírito assim como a do corpo;
- O amor não violento cria esperança e conhecimento mesmo em face às hostilidades;
- O amor não violento é infinito em sua capacidade de perdoar para restaurar a comunidade;
- O amor não violento não se rebaixa ao nível dos que odeiam;
- O amor ao inimigo é a forma para demonstrar o amor a nós mesmos;
- O amor restaura a comunidade e resiste às injustiças;
- A Não Violência reconhece que de fato toda a vida é inter-relacionada.

6. A Não Violência crê que todo o universo está ao lado da justiça:
- Os resistentes não violentos têm fé convicta que a justiça vencerá;
- A Não Violência crê que Deus é o Deus da justiça e do amor.


TORNAR A NÃO VIOLÊNCIA TRANSFORMADORA EM PRÁXIS:

Quatro passos do processo para resolver conflitos

1. Centralizar-se em nós mesmos:
Quando nos deparamos com a violência, injustiça, conflitos é muito importante permanecer na integridade que somos nós. De todo modo somos prisioneiros de nossas próprias normas inclusive das leis que justificam o uso da violência contra nós mesmos ou contra outrem. Um dos caminhos para fazer isto é a experiência feita pelos facilitadores Maureen Gatt e Gerald Hair que a chamam de “nosso observador interno” na realidade é o que há em nós de contemplativo e amante da visão do presente. Convidamos para um voltar à nossa realidade basilar e agir a partir daí, pois aí somos nós mesmos com mais coerência. Para fazer isto nos questionamos: “O que estou sentindo? Qual é a minha cosmovisão? Onde está Deus nesta situação?” Nós gastamos tempo para centrar-se em nós mesmos e então decidimos o que poderá ser feito na situação que temos em mãos. Acordando nós mesmos no mais profundo da nossa realidade, sentimo-nos preparados para responder, e não simplesmente reagir, ao conflito que temos na frente. Talvez decidimos protegermos a nós mesmos. Talvez nos envolvemos. Em todo caso nós decidimos agir a partir do ponto onde nós somos nós mesmos e não simplesmente reagir com a potencialidade destruidora existente.

2. Desviar nosso verdadeiro ser para nós mesmos e para nosso oponente:
Primeiramente descobrir qual é o meu sentimento real na situação e daí articular com o outro, que sente na mesma direção, juntamente com quem está em conflito. Sinto-me irado? É ruim, ou machuca, ou assusta-me submeter a este ódio? Segundo, envolver quem está em conflito neste mesmo sentimento. Em outras palavras, abrir nosso coração mais que nossa “posição” ou nosso “argumento”. Devemos fazer isto sem “ferir” a outra pessoa e tentar superar este impasse.

3. Aceitar a verdade do oponente:
Esta pode não ser minha verdade, porém é a dele, nós não chegaremos a lugar nenhum enquanto não ouvirmos uns aos outros. Este é o caminho também para conhecer o outro. Como diz o especialista em conflitos Marshall Rosenberg “Conhecimento” não significa necessariamente “concordância”.
Nós não precisamos concordar com a posição do outro, ou com os interesses que estão por trás de suas posições, porém podemos conhecer a verdade que está nele.

4. Fazer acordos e não assimilação:
Desviando a nós mesmos e ouvindo o outro tornam-nos capazes de descobrir a verdade e a não verdade da situação. Adquirirmos com isto, a capacidade para fazer acordos para esclarecer, como será possível estarmos juntos uns com os outros, ao invés de assimilá-lo. Muitos conflitos assumiram grandes dimensões por terem sido assimiladas posições discordantes.

(Estes quatro passos da Não Violência Ativa foram extraídos do ensaio feito pelo ativista e autor Bill Moyer “Moving from Dominating Behavior to Intimacy” juntamente com Ken Butigan e Patricia Bruno, OP, “From Violence to Wholeness” – Pace e Bene 2000 pp 43 e 44).

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,

E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos...

Pablo Neruda