segunda-feira, 29 de junho de 2009

SUBSÍDIOS PARA A NÃO VIOLÊNCIA ATIVA E TRANSFORMADORA

DECÁLOGO PARA A ESPIRITUALIDADE DA NÃO VIOLÊNCIA

1. Aceitar-me a mim mesmo em profundidade, “quem sou”, com todos meus dotes e riquezas, com todas as minhas limitações, os meus erros, as minhas falhas e as minhas fraquezas; e reconhecer que sou aceito por Deus. Viver na verdade de mim mesmo, sem orgulho em excesso, com menos desilusões e com menos falsas expectativas.

2. Reconhecer que aquilo de que me ressinto e até detesto noutra pessoa, vem da dificuldade de admitir que esta mesma realidade também vive em mim. Reconhecer e começar a renunciar à minha própria violência, que se torna evidente quando começo a observar as minhas palavras. Os meus gestos e as minhas reações.

3. Aprender a reconhecer e a respeitar “o sagrado” (“aquilo que é de Deus”, como dizemos Quakers) em cada pessoa, nós incluídos, e em cada parcela da criação. Os atos da pessoa não violenta ajudam a libertar este “divino” no nosso opositor, tirando-o da obscuridade ou do cativeiro.
4. Renunciar ao dualismo, à mentalidade “nós-eles” (maniqueísmo). Isto divide-nos em “gente boa - gente má” e leva-nos a demonizar o adversário. Também é a raiz do autoritarismo e do comportamento de exclusão. Provoca o racismo e possibilita o conflito e até a guerra.

5. Encarar o medo e tratá-lo com amor, não apenas coragem.

6. Entender e aceitar o fato de que a “Nova Criação”, a edificação da “Comunidade Bem Amada” só pode avançar com outros, porque nunca é uma “atuação de solista”. Isto requer paciência e capacidade para perdoar.

7. Vermo-nos como parte integrante de toda criação, em favor da qual promovemos um relacionamento de amor e não de dominação, recordando que a destruição do nosso planeta é um problema profundamente espiritual e não simplesmente um problema científico ou teológico. Somos um só.

8. Estarmos prontos a sofrer, até mesmo com alegria, ao sabermos que estamos ajudando a libertar o divino que existe nos outros. Isto inclui a aceitação do nosso lugar e momento na história, com os seus traumas e as suas ambigüidades.

9. Ter capacidade para a celebração, para alegria, quando a presença de Deus já tiver sido aceita e, quando não tiver, ajudar a descobrir e reconhecer esse fato.

10. Abrandar a mancha, ser paciente, plantando sementes de amor e perdão nos nossos próprios corações e à nossa volta. Pouco a pouco, cresceremos no amor, na compaixão e na capacidade de perdoar.

(Rosemary Lynch, OFS, Louis Vitale, Alain Richard, Ken Katigan, Pace e Bene Center;Las Vegas – Nevada – EUA)







PRINCÍPIOS DA NÃO VIOLÊNCIA:
Martin Luther King Jr.

Este sumário dos princípios da Não Violência de Martin Luther King Jr, foi adaptado pelo grupo:“Fellowship of Reconciliation” a partir do livro: “Stride Toward Freedon”.

1. A Não Violência é um caminho de vida para pessoas corajosas:
- É a não violenta ação e resistência contra o mal;
- É a disposição espiritual, mental e emocional intensa.

2. A Não Violência deseja a vitória da compreensão e do bom relacionamento:
- O resultado da Não Violência é a redução e a reconciliação;
- O propósito da Não Violência é a criação da “Comunidade Amada”.

3. A Não Violência supõe o fim das injustiças e não das pessoas:
- A Não Violência entende que os malfeitores são também vítimas;
- A resistência não violenta supõe o fim da injustiça e não da pessoa.

4. A Não Violência sustenta que o sofrimento voluntário pode educar e transformar:
- A Não Violência aceita o sofrimento sem retaliação;
- A Não Violência aceita que a violência é necessária, porém nunca a inflama;
- A Não Violência assume as conseqüências de seus atos;
- O sofrimento voluntário é redentor e tremendamente educativo e transformador;
- O sofrimento voluntário tem poder para converter o inimigo quando as razões fracassam.

5. A Não Violência opta pelo amor ao invés do ódio:
- A Não Violência resiste à violência de espírito assim como a do corpo;
- O amor não violento cria esperança e conhecimento mesmo em face às hostilidades;
- O amor não violento é infinito em sua capacidade de perdoar para restaurar a comunidade;
- O amor não violento não se rebaixa ao nível dos que odeiam;
- O amor ao inimigo é a forma para demonstrar o amor a nós mesmos;
- O amor restaura a comunidade e resiste às injustiças;
- A Não Violência reconhece que de fato toda a vida é inter-relacionada.

6. A Não Violência crê que todo o universo está ao lado da justiça:
- Os resistentes não violentos têm fé convicta que a justiça vencerá;
- A Não Violência crê que Deus é o Deus da justiça e do amor.


TORNAR A NÃO VIOLÊNCIA TRANSFORMADORA EM PRÁXIS:

Quatro passos do processo para resolver conflitos

1. Centralizar-se em nós mesmos:
Quando nos deparamos com a violência, injustiça, conflitos é muito importante permanecer na integridade que somos nós. De todo modo somos prisioneiros de nossas próprias normas inclusive das leis que justificam o uso da violência contra nós mesmos ou contra outrem. Um dos caminhos para fazer isto é a experiência feita pelos facilitadores Maureen Gatt e Gerald Hair que a chamam de “nosso observador interno” na realidade é o que há em nós de contemplativo e amante da visão do presente. Convidamos para um voltar à nossa realidade basilar e agir a partir daí, pois aí somos nós mesmos com mais coerência. Para fazer isto nos questionamos: “O que estou sentindo? Qual é a minha cosmovisão? Onde está Deus nesta situação?” Nós gastamos tempo para centrar-se em nós mesmos e então decidimos o que poderá ser feito na situação que temos em mãos. Acordando nós mesmos no mais profundo da nossa realidade, sentimo-nos preparados para responder, e não simplesmente reagir, ao conflito que temos na frente. Talvez decidimos protegermos a nós mesmos. Talvez nos envolvemos. Em todo caso nós decidimos agir a partir do ponto onde nós somos nós mesmos e não simplesmente reagir com a potencialidade destruidora existente.

2. Desviar nosso verdadeiro ser para nós mesmos e para nosso oponente:
Primeiramente descobrir qual é o meu sentimento real na situação e daí articular com o outro, que sente na mesma direção, juntamente com quem está em conflito. Sinto-me irado? É ruim, ou machuca, ou assusta-me submeter a este ódio? Segundo, envolver quem está em conflito neste mesmo sentimento. Em outras palavras, abrir nosso coração mais que nossa “posição” ou nosso “argumento”. Devemos fazer isto sem “ferir” a outra pessoa e tentar superar este impasse.

3. Aceitar a verdade do oponente:
Esta pode não ser minha verdade, porém é a dele, nós não chegaremos a lugar nenhum enquanto não ouvirmos uns aos outros. Este é o caminho também para conhecer o outro. Como diz o especialista em conflitos Marshall Rosenberg “Conhecimento” não significa necessariamente “concordância”.
Nós não precisamos concordar com a posição do outro, ou com os interesses que estão por trás de suas posições, porém podemos conhecer a verdade que está nele.

4. Fazer acordos e não assimilação:
Desviando a nós mesmos e ouvindo o outro tornam-nos capazes de descobrir a verdade e a não verdade da situação. Adquirirmos com isto, a capacidade para fazer acordos para esclarecer, como será possível estarmos juntos uns com os outros, ao invés de assimilá-lo. Muitos conflitos assumiram grandes dimensões por terem sido assimiladas posições discordantes.

(Estes quatro passos da Não Violência Ativa foram extraídos do ensaio feito pelo ativista e autor Bill Moyer “Moving from Dominating Behavior to Intimacy” juntamente com Ken Butigan e Patricia Bruno, OP, “From Violence to Wholeness” – Pace e Bene 2000 pp 43 e 44).

Um comentário:

Anônimo disse...

saudade.. gostei das opiniões e textos sobre a não violência. Poderias contribuir inserindo e atualizando com mais frequencia este teu blog. Acho importante.